domingo, novembro 23, 2008

Prefácio


Sorte
- Maria Bethânia -

Se aquela estrela
Velar por nós
Será que escuta
minha voz?
E me ajuda
atravessar
a noite escura
que vai passar...

Pode estar escrito
em algum lugar
Ou a gente escreve
ao caminhar

Onde estiver
olhe para o céu
Essa estrela vai guiar
onde você for
Seja o que for
tiver que ser
Olhe para o céu
para agradecer

Pode estar escrito
em algum lugar
Ou a gente escreve
ao caminhar

Pode estar escrito
em algum lugar
Ou a gente escreve
ao caminhar


Ao fim do filme "O signo da cidade" (Brasil - 2008) a suave voz de Maria Bethânia interpreta esta música chamada "Sorte", trazendo a mim uma sensação de profunda melancolia e desejo de eternidade. Isso porque me conduz a um período de minha vida em que eu, tal qual a letra, buscava nas estrelas o sentido da vida. Ao contrário da personagem do filme, eu não procurava respostas em mapas astrais, era na própria existência das estrelas que eu buscava o motivo do existir de todos nós. Eu contemplava o universo, pleno de luz e escuridão, onde o tempo deixa de existir para permitir o mistério, mistério que generosamente nos deixa viver em uma galáxia bem pequenina, em algum lugar quase imperceptível. Retomar esse sentimento é então continuar a refletir sobre o que pode ser considerada a maior incerteza humana. Religiosos, estudiosos, todos estão à procura da eternidade. Talvez a vastidão do universo tenha colocado no homem esse desejo, talvez o mistério. O fato é que ele existe. E cada um de nós necessita preencher esse vazio, o vazio da incerteza. Alguns de nós aprenderão com a religião que a vida continua após a morte, aqui mesmo na Terra, no Paraíso, no Céu, ou mesmo em outra forma de vida. Outros de nós aprenderão que não há nada além desse mundo e que só temos uma oportunidade de viver, de ter consciência, e que após a morte deixaremos de existir. O que eu não sei é se alguém passa pelo mundo sem pensar nisso e sem precisar acreditar em alguma coisa. Seja como for, a humanidade pode ter passado por incríveis transformações ao longo dos séculos, mas sempre vai precisar destes oráculos, às vezes de veneno, para se amparar, para conseguir sobreviver. Dizem que a quantidade de átomos que deu origem ao universo é constante, ou seja, é a mesma até hoje. Isso significa que pra onde quer que formos nós, faremos parte de alguma coisa, e que assim sendo, nunca seremos apagados do universo. Por isso eu acho que o medo da morte é mais um medo de perder a consciência da vida, mas ao mesmo tempo não sei se temos consciência alguma dessa energia tão poderosa que nos deixa existir. Daí a melancolia e o desejo de eternidade, entre a sensação triste da solidão diante desta imensidão e o júbilo de fazer parte de tudo o que existiu, existe e existirá. Estamos fadados à eternidade, ao eterno caminho de sair dela e a ela retornar...

Por isso início esse blog, para que ele seja um espaço onde eu possa jogar as inquietações, expectativas, estranhamentos e encantamentos desse meu caminhar!

3 comentários:

ART disse...

querida, adorei o pontapé inicial do blog. belo começo. tb adoro estrelas... e vê-las é um privilégio de quem, como nós, cresceu fora de sampa. aqui as estrelas aparecem com maior timidez! continue postando! beijo grande.

Olharinfoco Blog disse...

Nossa amorzinho! Que bela postagem. Pura sensibilidade! Seu texto me ajudou a pensar muitas coisas. Bjs...

Olharinfoco Blog disse...

Mais postagens por favor senhorinha!!!!