domingo, dezembro 20, 2009

Trailer do Filme "A Partida"


Só encontrei o Trailer com legenda em inglês.

Despedida

Estava passeando por alguns Blogs e fiquei pensando se eu não poderia escrever textos mais pessoais... Penso que sou, quase sem querer, reservada demais para tratar Palavras ao Avesso como um diário digital... Isso é algo que foge ao meu controle. Mas posso tentar abrir espaço aqui para "pensar alto" um pouquinho mais, em doses homeopáticas... Por isso quis fazer hoje um breve balanço do ano de 2009. Para isso, queria citar um filme lindíssimo que assisti este mês e que me tocou profundamente. 
O filme é "Okuribito" ("Departures" em inglês, "A Partida" em português) - Japão, 2008.  
Bem, contando de forma breve, "A Partida" traz a história de Daigo, um rapaz que sonhava ser um violoncelista de sucesso em Tóquio mas que, por questões financeiras, volta a morar na cidade em que viveu durante a infância e passa a trabalhar numa agência responsável por cerimônias fúnebres.
Entre o repúdio inicial do contato com corpos sem vida e a angústia provocada pelas memórias de criança, presas na casa em que viveu com sua mãe e em que sentiu-se abandonado por seu pai, Daigo passa pouco a pouco, a partir também do contato com as emoções dos familiares que solicitam seus serviços, a refletir sobre o sentido de sua vida, seus anseios.
Roteiro, Trilha Sonora e Fotografia entram em verdadeira sintonia e fazem deste filme uma experiência belíssima, de pura delicadeza...
E o que esta experiência me ajuda a dizer hoje é que este foi um ano em que as grandes mudanças aconteceram silenciosamente, nos detalhes mais sutis, onde nada parecia realmente mudar. Pude compreender melhor o peso dos meus sonhos, tive oportunidades de sentir a complexidade dos meus sentimentos, de perceber que as coisas que precisamos aprender estão guardadas justamente nas caixinhas que temos mais resistência em abrir. Descobri que muitos dos monstros que assombravam meus sonhos não eram tão gigantes quanto eu pensava. Aprendi a buscar ajuda quando preciso. Aprendi que sempre preciso de ajuda e que é principalmente quando me protejo demais que mais indefesa me torno. Que nos fortalecemos ainda mais quando temos paciência. Que é quando as coisas fogem ao nosso controle que temos a chance de nos libertarmos da ilusão de que temos tudo sob controle. Que trazer o passado de volta pode sim nos ajudar a entender melhor nosso presente. Que sempre vou sentir medo, mas que se eu conseguir sentir amor também caminharei com mais vontade. E enfim, que há uma neblina densa que só o tempo vai diluir que me impede de compreender o porquê de algumas coisas e que eu não vou conseguir ver adiante até que chegue o momento certo. 
Assim termina o ano de 2009!




quinta-feira, dezembro 10, 2009

Costumes, Tendências e Extravagâncias


Almoço dos Remadores de Renoir - 1881


Acho que todos nós temos acompanhado, mais ou menos de perto, com ou sem interesse, a avalanche de discussões a respeito de alimentação. A Alimentação e suas influências sobre a Saúde e a Doença é um assunto que ganhou grande espaço nos últimos anos. Jornais, revistas, programas de TV, livros, principalmente de auto-ajuda, ninguém se cansa de opinar, corrigir, aconselhar, advertir, confundir... Seguindo essa onda de discussões venho também contribuir com o meu blábláblá básico.
Há poucos meses estava na sala de espera de um consultório médico e fui surpreendida pelo tom jocoso da secretária ao ler o título do livro que eu estava carregando "Por que sou gorda, mamãe?", de Cíntia Moscovich. A situação deve ter parecido bastante divertida por dois motivos. Primeiro: o título traz um tom emotivo, meio brincalhão e meio melancólico, mas que sem dúvida lembra os títulos dos livros de auto-ajuda que abarrotam as estantes das grandes livrarias. Segundo: não sou obesa.
"Por que sou gorda mamãe?", longe de se propor a lançar leis universais sobre as relações humanas, o comportamento, os hábitos, o que quer que seja, e definir receitinhas que sem erro possam ajudar o leitor a se auto-ajudar a conquistar uma vida de sucesso, prosperidade e felicidade sem fim; é uma obra delicada que trata da complexidade das relações familiares, sobretudo entre mãe e filha, utilizando como ponto de encontro (e confronto) os momentos à mesa.
Enquanto a protagonista passa por mais uma árdua fase de restrição alimentar, em que se propõe perder mais de 20 kg, vai rememorando situações marcantes junto de sua grande família de origem judaica - que teria chegado ao Brasil após enfrentar duros períodos de guerras.
Em vez de explicar como as pessoas funcionam, ou como as famílias funcionam, esta personagem se aventura na mais importante viagem de sua vida, em busca de suas confissões, medos e frustrações que têm estreita relação com a forma com que foi criada, mas que no fim das contas a tornou o que ela é, o que foi possível ser.
Bem, certa vez um professor meu disse em sala de aula que a busca em perpertuar-se traz ao humano duas grandes sedes (ou fomes): a de alimento e a de sexo. Claro que mais do que uma constatação era uma provocação. Mas não deixa de ser interessante que os melhores momentos em sociedade estejam ligados às relações que estas duas necessidades provocam. E de todo modo, no meio de tudo isso, nossa maior necessidade é de nos comunicarmos com as pessoas e construirmos um mundo de sentido.
Por isso, acho que os encontros entre amigos e familiares pedem a partilha. Partilhar experiências, emoções, onde a partilha da comida (não ousarei estender meu blábláblá a respeito de sexo, ao menos não hoje) é apenas uma desculpa também muito prazerosa...
Essa semana saiu na folha uma matéria que dizia basicamente que se você tem um amigo obeso tem mais de 50% de chance de tornar-se obeso... Esses cientistas... De todo modo acho que essas longas matérias sobre alimentação acrescentam o fato de que o maior problema dos nossos dias está na redução drástica de esforço físico.
Os almoços, cafés da tarde, jantares, encontros nos bares da vida, permanecem necessários para nosso bem-estar social e deleite espiritual. E aí acho que faz menos diferença se a batata é frita ou orgânica e assada com tofu, do que se estamos  nos aproveitando desses momentos para nos alimentarmos sobretudo de idéias e afetos. Isso me parece ser o mais importante! O grave mesmo é quando as comidinhas passam a ser mais interessantes e importantes do que as pessoas com quem vamos compartilhá-las... E triste quando a comunicação deixa de fazer sentido...
Quando comer é um modo de calar sentimentos, impressões, confissões (não digo "se calar" porque sempre que vemos pessoas reunidas ao redor de mesas repletas de alimentos, vemos muita gente falando, o que não quer dizer que estão se comunicando, refletindo, tampouco patilhando)..., algo fica vazio e corremos o risco de tentar preencher esse vazio com comida. Quando deixamos isso acontecer, aí sim estamos fritos...e provavelmente gordos...


Comedores de Batatas de Vincent Van Gogh - 1885

P.S.: leiam o livro da Cíntia, é muito bom!!!

sexta-feira, agosto 14, 2009

Só há o caminho...


Tenho andado melancólica e com sede de buscar boas soluções para meus pequenos dramas. Um ciclo está se fechando, outro se abrirá. Um mar de escolhas parece estar diante de mim, mas a gente sabe que não é bem assim. Há necessidades, sempre internas, que nos fazem percorrer nosso caminho de um modo peculiar, quase confuso. Às vezes há pressa, pois parece que o mundo está cheio de possibilidades e precisamos correr e alcançá-las antes que seja tarde demais. Ouvimos muita gente, cheias de histórias de tudo aquilo que foi e não foi para alguém. Temos muitos exemplos. Temos grandes causas e pequenos embaraços. Indiferente ao nosso drama particular está o tempo. De pernas para o ar, de joelhos, de braços cruzados, de cabeça baixa, de olhos fechados, em silêncio, observando, na multidão... Tentando por si e pelos que não puderam tentar. Sentindo que não está tentando só para não se machucar. Sofrendo tanto por não arriscar. Respirando fundo para poder continuar. Um passo para frente, dois passos para trás. Medo de ir, pavor de ficar. Fazendo pelos outros. Fazendo para os outros. Não fazendo por ninguém, nem por si. Como é inseguro caminhar... E se for a última chance? E se a chance nunca chegar? O que fazer com o tempo que parece restar? Alguém, uma vez, me disse: "a gente sabe o que é errado". Não sei se entendo o errado. Mas quero sentir que estou fazendo o que é certo e valorizo, sobretudo, o contentamento durante o caminho, porque só existe o caminhar. Assistam "Apenas uma vez"!




segunda-feira, março 30, 2009

"Home officers": trabalhando em casa!

Esta manhã li uma reportagem, de uma revista sobre saúde, cujo título era "Trabalhar em casa traz qualidade de vida ou traz estresse?". Claro que me interessei muito pela matéria porque, como sabem, trabalho em casa. Achei interessante o fato de haver um nome que "defina" esse tipo de trabalhador: "home officer". É de se esperar que "home officers" se refira, de um modo geral, aos profissionais que prestam assistência e consultoria a empresas integrados em redes on line e profissionais autônomos. Parece que a grande inovação desse método de trabalho é justamente a possibilidade de aumentar a "produtividade" do empregado, já que sugere uma melhor qualidade de vida (pois evita transtornos estressantes como o trânsito de ida e volta ao trabalho além do estresse do próprio dia-a-dia na empresa), e economiza na concessão e manutenção dos equipamentos de serviço da empresa (já que este profissional irá agora utilizar seus próprios equipamentos - computadores, tefefones, etc. - e terá, portanto, que se virar quando estes próprios equipamentos falharem).


Não satisfeita com a matéria da revista, fui procurar mais informações na net a respeito desses caras e encontrei muitos discursos animados de quem trabalha desse modo e, em vez de incitar à preguiça, consegue investir em "produtividade", acelerando seu tempo conforme o desejo. Acontece que boa parte desses "home officers", na fissura de controlar o próprio ritmo, podem se tornar workaholics, trabalhadores compulsivos. A essa altura pode parecer que estou viajando... E estou. É certo que eu não trabalho para nenhuma empresa, mas pertenço ao grupo daqueles que estão se aventurando nos percalços da vida acadêmica e, como tal, precisam dispor do tempo a seu favor. Desconsiderando então os problemas do mercado empresarial, mas considerando que nossa área também tem padecido com as demandas por "produtividade" intelectual - e nada poderia ser mais cruel para as ciências humanas -, algumas informações são muito importantes para quem trabalha em casa, principalmente em relação a dois probleminhas básicos que todo mundo que escreve uma dissertação ou tese tem que enfrentar: como lidar com o tempo? e como lidar com a ansiedade que o tempo gera?


Posso dizer que tirei boas dicas de tudo o que li e quero compartilhá-las, vamos lá. O processo é mais ou menos o seguinte, quem quer (ou precisa) trabalhar em casa deve ter em conta que a casa tem um ritmo próprio (das pessoas que circulam nela antes de você chegar com seu trabalho) e é preciso ser muito organizado para colocar limites entre sua vida profissional e sua vida pessoal. Ou seja, você está em casa, mas todos precisam entender que você está no trabalho e, portanto, é como se você não estivesse. Isso mesmo. Dizem os home officers, "não caia na síndome do 'Jaques': 'já que está em casa...'. Cuidado!


Cair nas garras da indisciplina e da preguiça, ou seja, não trabalhar da forma devida, acarretam fatalmente em ansiedade e desânimo, com tudo o que esses dois sintominhas trazem de ruim: muito sono, falta de sono, dores de cabeça, dores musculares, gastrite, ganho não desejado de massa adiposa, irritação (principalmente pelo ganho indesejado de massa adiposa), sentimento de incompetência, complexo de culpa, sem falar na auto-estima que vai a zero... Não esquecendo também da solidão que enfrentamos nos duros dias de trabalho intenso, que são necessários mas não precisam durar demais. As pessoas se acostumam com nossa ausência e, podemos não admitir mas isso dói. E parece que tem coisas na vida que quanto menos a gente faz menos quer fazer, mas sucumbir na inatividade é dramático demais também né... Mas a idéia aqui é ilustrar os dramas que corremos o risco de viver sempre que pisamos na bola e não damos o devido valor ao nosso tempo. Acho que quem trabalha dessa forma deve ter sentido alguns desses sintomas, até porque, no prazo final de entrega dos tranbalhos eles são praticamente inevitáveis. Mas não precisam ocupar todos os anos de mestrado e doutorado.


Devemos sentir muitas emoções nesta vida, o maior número possível delas, para o nosso próprio bem, mas tudo no seu devido lugar! Trabalhar é muito bom e necessário. E encontrar algo de que gostamos realmente e podermos escolher com o que queremos trabalhar é quase um sonho. Mas não podemos nos esquecer de que precisamos nos alimentar de outras formas também. Conviver com pessoas, encontrar os amigos, participar do dia-a-dia da família, ir ao cinema, namorar, andar pelas ruas, sentir o tempo, pisar na grama, saborear um sorvete tranquilamente sentado na calçada, caminhar, nadar, dançar sozinho no quarto, quem sabe, pescar... Também estamos aqui pra isso. Sem mais.
Muitos beijos a todos!!!

sexta-feira, março 13, 2009

Partilhando Experiências: por que não há os "outros"...


Vou expor aqui uma característica do trabalho que desenvolvo na Academia. Sou mestranda em Antropologia Social e a linha de pesquisa em que estou vinculada é a Antropologia da Religião. E o assunto que quero tratar hoje é justamente o meu método de pesquisa: o trabalho etnográfico. Podemos considerar que a parte mais trabalhosa e fundamental de um trabalho de antropologia (independente da linha de pesquisa) é a parte etnográfica que consiste em compreender o modo como as pessoas constróem sentidos para o mundo em que vivem a partir das experiências sociais que partilham conforme sua condição. Eu, como antropóloga, preciso então mergulhar na vida das pessoas, não como um entrevistador comum, não como um jornalista, não como um curioso, muito menos como um detetive. Meu mergulho precisa ser atento e ao mesmo tempo delicado porque cada detalhe pode significar muito. Por isso as entrevistas não são mais importantes do que aquilo que não é dito nelas, por isso a convivência é essencial. Acontece que essa convivência, que não tem prazo limite (exceto o imposto pelo pesquisador e seus sujeitos de pesquisa), acaba cobrando algo do pesquisador. Pode parecer que as pessoas se incomodem bastante com pesquisadores. Talvez sim, talvez com alguns. Mas creio que a grande maioria das pessoas acabe se agradando com a possibilidade de verem retradas em algum lugar suas idéias, suas experiências. E é preciso ter muita responsabilidade e respeito. É preciso reconhecer que a Teoria não pode ser usada para dizer o que gostaríamos de dizer sobre os "outros". A Teoria funciona como ferramenta para alcançarmos as pessoas e suas idéias e construirmos idéias sobre como esses processos se dão e não para explicarmos como o mundo funciona. Isso porque a questão não está nos "outros". Buscar os "outros" é sempre uma forma de chegarmos a nós mesmos. É por isso que cada conversa, cada experiência dentro de um grupo estudado envolve uma partilha de significados. Longe de ficar tentando adivinhar se o que as pessoas estão dizendo corresponde a uma "verdade absoluta", é preciso ter a consciência de que tudo o que dizem tem relação com a forma como se entendem ou gostariam de se entender neste mundo. E aí está nosso ponto de encontro. O que faço eu senão buscar também os meus sentidos... Estou escrevendo hoje apenas para agradecer aos meus "sujeitos" de pesquisa. Muito obrigada por partilharem um pouco de vocês comigo. Certamente um pouco de mim também está com vocês, pois no esforço em me debruçar sobre o que desconheço é que aprendo o quanto me ensinaram a conhecer mais de mim mesma. Escrevendo as histórias de "outras" pessoas engrosso também as páginas de minha própria história.