quinta-feira, dezembro 30, 2010

Bem-vindo 2011!!!

Quando as situações se complicam e parece difícil consertar tudo o que está mal-feito, e estamos profundamente desanimados, é quase impossível resistir à tentação de recomeçar. Quase sempre dá vontade desmanchar o esboço desajeitado do nosso castelo e espalhar a areia toda, respirar fundo e começar tudo de novo, começar do zero. Mas, seria isso possível? Não seria assim tão fácil.
Apesar das promessas, apesar dos planos, apesar das crenças, já no início dos novos projetos percebemos os vícios das mãos na forma de moldar as bolinhas, de traçar os caminhos e formar os moldes. Separamos as forminhas, a água, circunscrevemos um espaço que queremos que seja só nosso, nos encarregamos de checar todos os ingredientes, a pá, o garfo, o monte de areia e as pedrinhas  e conchas para dar o toque final. O vento está fraco, o sol está agradável. É a hora certa de recomeçar. Sentimos uma relação profunda com a areia.
E mesmo assim percebemos nossas limitações logo no início da montagem do novo castelinho. Em pouco tempo parece que o novo plano não foi assim tão bom. O novo plano não é assim tão novo. Na metade do novo castelo já percebemos detalhes parecidos com o anterior. Procuramos os erros. Seria culpa da areia úmida demais? Da pá muito pequena? Da nossa idéia muito grandiosa do castelo? Seria mais fácil com argila? Seria mais fácil se não fosse um castelo? Seríamos realmente capazes de construir o que está na nossa cabeça, fosse com argila, tijolos ou areia? O que está errado: nossa forma de construir, o material de que dispomos ou o castelo existente em nossa cabeça?
O tempo vai passando. O material está todo na nossa frente. E a cada dia a estrutura do castelo vai desmoronando em nossa cabeça. E o desejo de construí-lo também...
O que a gente demora a se perguntar é se temos algum controle do que vai ser construído por nossas mãos, nossos pensamentos, nosso coração.
E se a forma final do tal castelinho não for mais importante do que cada passo dado, cada monte de areia, cada forminha, cada gota d'água?
Acho que nunca vamos compreender o tempo que temos. Nunca vamos saber por que o castelo que fazemos parece nunca corresponder ao que temos em mente. Nunca vamos saber por que a pá parece sempre inadequada, a água nunca é suficiente ou é demais, e por que quando o castelo parece até bonitinho vem uma onda grande e desfaz tudo...
Talvez o pulo do gato esteja em não perder tempo, o pouco tempo que temos, construindo novos planos, já que sabemos que não há outro plano, há sempre um só. É claro que podemos transformar nosso castelo conforme as adversidades, fechar uma janela, abrir outra, desmanchar uma torre ou mudar alguns cômodos. Mas é preciso amar muito, e sobretudo, cada passo dessa construção. E acreditar que o que queremos que seja construído vai ser parte do que trouxemos conosco a vida toda, parte do que ganhamos sem querer, parte do que perdemos sem saber.
E ao fim de cada dia, e não de cada ano, é preciso  ter forças para valorizar o que foi feito, recolher as pás, garfos, formas e lavá-los, secá-los e guardá-los adequadamente. E é preciso descansar, repor as energias para que no dia seguinte estejamos de pé, prontos não para outra, mas para a mesma construção. A construção do nosso mundo. E se encontrarmos formas de construir novas pás, ou encontrarmos uma concha nova serão bem-vindas no projeto que já existe, no único projeto possível..., o nosso. 
E vale à pena deixar de lado essa velha mania de ficar espiando os castelinhos alheios e criticando as ferramentas e estratégias diferentes das nossas. Cada um com seu cada um. Afinal, sabemos que nosso castelo é tão de areia quanto todos os outros...

sábado, outubro 30, 2010

Sweet child o'mine


À Brida...
Se você pudesse escolher, para quem gostaria de estar olhando em sua partida?
Despedidas são tristes assim.
Minha mãe a abraçou forte e chorando copiosamente agradeceu por tantos anos de amor, de companhia, de lealdade. Eu a tomei nos braços e entrei no carro. Fomos para a clínica.
As últimas pessoas que Bi viu foram meu pai e eu. Estávamos lá, acariciando sua cabecinha branca enquanto a veterinária aplicava a anestesia geral. Sua respiração foi ficando lenta. Seus olhinhos, apesar de não desgrudarem de nós um só segundo, ainda que ela já não devesse estar enxergando muita coisa (estava quase cega), foram perdendo o foco, como se olhassem algo que estivesse distante. E ela foi perdendo a consciência, mas ainda dava para ver a barriguinha descendo e subindo, o narizinho soltando um pouquinho de ar, os olhos brilhando...
Depois de aplicada a injeção letal o tempo encolheu. Algo simplesmente escapou de seus olhos. Um brilho foi se desprendendo rapidamente. Esse algo era a vida.
Um mistério sem nome e sem dono pairou e a levou.
Ergui seu corpinho, agora largado, e enrolei numa toalha de banho limpinha. Abracei fortemente seu corpo contra o meu e desejei muito saber para onde ela havia ido.
Entramos no carro, meu pai e eu, e fomos para o terreno onde vamos construir nossa nova casa. Embrulhamos o corpinho dela com um paninho em que ela costumava dormir e colocamos numa caixinha de papelão. Junto de seu rostinho coloquei um quartzo rosa lindo, que guardei por tantos anos, como símbolo de um pedaço do meu coração. Meu pai cavou um buraco no lugar onde será nosso quintal. Colocou a caixinha, e cobriu com a terra. Fomos para casa.
Num futuro próximo, daqui uns 6 meses, vamos plantar uma árvore onde ela foi enterrada. Acredito que plantaremos uma pitangueira. Esta árvore se chamará Brida.
            A vida se esvai e fica um certo alívio, uma gratidão tremenda e a certeza de que alguma coisa vai continuar. Mais misteriosa do que a morte é o amor. A questão é que ela vai continuar, mas de um outro modo. Vai prosseguir pela terra onde vai brotar uma árvore. E vai caminhar pelos seus frutos e pelos corpos daqueles que os comerem. E pelas folhas que caírem no outono e também pelas flores que nascerem na primavera. E meu amor... Meu amor é para sempre. Nosso amor é para sempre e vai viver na saudade plantada no fundo do meu quintal.
            Brida foi um cachorro. Mistura de poodle com pequinês. Veio morar conosco quando tinha só dois meses. Mudou de cidade conosco, fez viagens e muita companhia. Era o xodó da família. Cercada de mimos, mas nunca deixou de ser um cachorro. Passeava na rua, demarcava postes, sacos de lixo, árvores, montes de areia e pneus de todos os carros estacionados no caminho do passeio diário. Tinha medo de fogos de artifício. Adorava suco de caju e peito de frango. Era bastante ciumenta e muito carinhosa com a família. Em seus últimos meses, queria nossa companhia mais do que nunca. E muitas vezes eu me pegava chorando, pensando no dia em que ela não estivesse mais entre nós. Ficávamos quase todos os dias, durante umas duas horas, abraçadas no sofá. Ela ganhava afagos e cheiros e eu ganhava tempo, ganhava memória, ganhava amor. Dei seu último banho nesta terça (26/10). Sabia que seria seu último banho. Dei também seu último gole de água e as últimas bolinhas de ração para cachorros cardíacos.
            Nasceu no dia 08/05/1995. Faleceu no dia 30/10/10, com 15 anos e 6 meses.
Hoje estou me sentindo bem pequenininha. E é bom ter o direito de se sentir pequeninha e chorar tudo o que tem para chorar. Afinal é esse o pacote da vida não? Não quero metade, quero o pacote.
Agora minha pequena está mais espalhada, assim como minhas lágrimas.
Ela era do mundo e agora o mundo é que é seu.
Agora minha pequena está mais livre.
Assim como um dia estarei eu.


quinta-feira, outubro 21, 2010

À Nossa Amizade

   Quando eu era criança, ter amigos era garantia de diversão. Elástico, esconde-esconde, pega-pega, amarelinha... Muitas risadas e o coração cheio de felicidade! Mas é claro que conforme fui crescendo percebi também que não podia evitar momentos difíceis entre meus amiguinhos. Me fazia bem mostrar a eles que eu estaria por perto em todas as situações. 
   Quando adolescente vieram os conflitos do coração. E eles estavam lá para mim, assim como eu estava lá para eles. Mas também vieram os shows, as viagens, o cineminha de quarta-feira, os aniversários... O coração, porém, foi ficando mais aflito. Inseguranças, responsabilidades, e muitos deveres pela frente. 
   Na faculdade vieram novos amigos, novas preocupações, inseguranças e conflitos do coração. Cartinhas semanais para lá e para cá e mantínhamos as fofocas em dia. Os anos passando, amores chegando, corações partindo. E os amigos lá, escutando, palpitando, torcendo, se abrindo. Mais responsabilidades, desejos, expectativas. Muita torcida, muito cansaço, algumas decepções. Encerrando um ciclo. Despedidas...
   Novas expectativas, novas moradas. Mudanças de idéia, de ponto de vista. Distanciamentos. Muito tempo. Aproximações. Um pouco de alento. E solidão... Só pra saber até onde a gente pode chegar. O mundo mudando. Muita pressa. Saudade que a gente deixa viver com lembranças, fotografias, cartas. Dúvidas. O futuro logo ali. Cada um seguindo seu caminho, precisando estar sozinho. 
   Muita coisa boa pro futuro. Muitos sonhos. Tudo o que me trouxe até aqui e me ajuda a continuar, em minhas esquisitices, com aquilo que eu tenho de bom. Muita gratidão, ainda que não pareça.
   Quem não precisa de amigos? Acho que nunca fui embora e nunca irei. Uma parte de mim está em todos lugares e não foi para lugar nenhum. Estarei sempre. Para o que der e vier.
   Mary & Max celebram tudo isso, da melhor maneira possível! Fica a dica.

quinta-feira, outubro 14, 2010

É Primavera...


     Nem quente demais e nem muito frio. Com a primavera, a temperatura começa a aumentar e as roupas de frio vão para os fundos das gavetas. É hora de fazer aquela faxina! 
     Esvaziar o guarda-roupa. Lavar as roupas de inverno que a gente usa, e esquece de lavar - casacos, cachecóis, blusas de lã -, e escondê-las. Passar uma água nas demais roupas que ficaram guardas por muito tempo. Doar aquelas que não usamos mais, seja porque não combinam mais com a gente, seja porque não servem e, não se iluda, nunca mais servirão; mas que ainda estão muito boas. Separar aquela blusa e aquela calça que a gente gosta tanto e que só poderão ser usadas novamente daqui 3 quilinhos a menos, só 3 quilinhos.... que falta de vergonha na cara... (melhor perder agora do que esperar ganhar mais 3 com as saidinhas para comer sorvete e açaí na tigela). Reformar aquelas que a gente ainda gosta mas precisam de uns ajustes - transformar aquela calça jeans antiga e que cai tão bem em uma bermuda fofíssima com as barrinhas dobradas, encurtar aquele vestido muito comprido, acinturar aquele outro novinho que a gente ganhou da tia gordinha, tingir aquela blusinha linda que tem uma mancha que surgiu misteriosamente e que não sai de jeito nenhum. Dar uma limpada nos sapatos. Lavar e guardar limpinho aquele cobertor queeeente e que não vai ser usado até maio de 2011.
      A idéia é deixar o ar entrar. E aí quem sabe dá aquele pique e a gente grava em cds aqueles bilhões de músicas que ocupam o HD do nosso humilde PC, e pode também organizar em caixinhas (R$0, 50 cada na Santa Ifigênia) aquela  centena de filmes gravados, antes que nenhum aparelho de dvd os reconheça de tão riscados. E por que não gravar aquele monte de fotos de família em um dvd e separar uma dezena e meia para revelar e colocar em um álbum, só para ter o prazer de revirar as páginas do tempo quando nos sentirmos sozinhos ou quando a casa estiver cheia e estivermos contando pela vigésima vez aquela história... 
     Tá bom... Isso soa melhor do que realmente é? Talvez. Mas nada como ligar o som bem alto pra botar pra quebrar! E se realmente a experiência estiver sendo maravilhosa, aí a gente pega aquele batalhão de textos lidos nos 10 últimos anos de faculdade e vai separando por disciplina e/ou autor, e faz uma poupança para poder encadernar tudo, uma apostila por semana... 
     Peguei pesado né... Quem sabe em outra primavera!!!

quarta-feira, outubro 13, 2010

O Mundo

Farol Amarelo!

     Tenho por hábito utilizar frases de escritores que admiro em minha agenda, diário ou mesmo naquele espaço pessoal do MSN que a gente compartilha com nossos amigos. Muitos destes trechos e frases são retirados de obras famosas e, por esse motivo, são em geral muito conhecidos. Embora sejam muitas vezes banais, outras vezes estas frases acabam se tornando inspiradoras e sendo vistas como uma espécie de epifania, como se fossem um atalho para nossas questões mais profundas. No meu caso, essas frases representam uma forma de me sensibilizar para o cotidiano. É como um suspiro profundo no fim do dia, que me traz a consciência de que eu estive respirando o tempo todo, e que o dia acabou, mas eu não. E que preciso me manter alerta. É uma luz amarela indicando atenção! Não são simples frases de efeito.
      Nunca me interessei por biografias. Porque é como entrar em contato com uma fantasia alheia. Prefiro as minhas próprias impressões e fantasias.
      Acontece que hoje às 6h30 da manhã, enquanto tentava me recuperar de uma cólica que me tirou da cama às 4h10, terminei a leitura de "Clarice,", biografia de Clarice Lispector escrita por Benjamn Moser. E dizer algo sobre essa minha experiência é aceitar e acolher esse fôlego de vida que o farol amarelo me oferece mais uma vez.
     Ter conhecimento da infância de Clarice, das pessoas que a cercaram, do início de sua carreira como escritora, dos trechos de suas cartas enviadas a sua irmã e aos amigos mais chegados, nos tempos em que viveu fora do Brasil, é muito especial. Sobretudo as cartas e escritos que tratam do processo de composição de suas obras, de sua relação com os personagens e seus destinos.
     Acabei de rever uma entrevista sua feita em 1977, meses antes de sua morte, pela TV Cultura, disponível no Youtube.
     Em minha vida sempre me senti provocada por uma imensa sede. Sede de palavra. Sede de histórias. Muitos olhos que tenho encontrado em meu caminho, tão marcantes quanto os de Clarice,  têm me despertado essa sede. Observo todos os tipos de pessoas e imagino quantas histórias essas pessoas não têm podido escrever, quantas histórias anônimas poderiam surgir. Buscando essa mesma epifania, esse sentimento de alerta, senti hoje o quanto ainda tenho que me desarmar humildemente para ouvir as histórias que essas pessoas têm para contar e contar também ainda mais humildemente as minhas.
     Entre tantas possíveis, uma das citações mais belas de Clarice é um trecho de uma carta que ela escreve a sua irmã mais velha: "Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você acha que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - esse é o único meio de viver" (p.260). No início do livro "Uma aprendizagem ou O Livro dos Prazeres", ela diz: "A mais premente necessidade de um ser humano é tornar-se um ser humano". Pois é... Estamos tentando...


domingo, junho 20, 2010

Desabrochando... sempre!

EUA/2007



Nos últimos dias tenho sentido muitas mudanças. Tenho escutado novos sons, visto novos filmes. E o interessante é que tanto os filmes quanto as músicas têm me conduzido a uma mesma questão: nossa capacidade de partilhar a condição humana. Felizmente estou cercada de pessoas muito inteligentes e sensíveis que têm trabalhado duro para encontrar em si mesmas um sentido para viver; e que tem partilhado comigo, mesmo que indiretamente, seu tempo e suas experiências. Espero também poder partilhar o que venho construindo em mim, minhas questões, minhas histórias, minhas novidades - tão velhas de tão íntimas.
Mas no momento gostaria de dividir algo que me sensibilizou profundamente, o filme "O Visitante", que assisti no sábado. Este filme trata, sobretudo, como os bons filmes fazem, da necessidade que temos de, como o Gui me disse hoje, colocarmos nosso mundo em perspectiva ao nos relacionarmos com as pessoas. E ao pensar neste filme, que trata da nossa imensa solidão e necessidade de descobrir nossos próprios sentidos, penso naqueles que algum dia pude chamar de amigos. E me lembro de como é estar entre eles. Quando estamos junto de pessoas que nos permite experimentar o seu mundo, um outro mundo se forma, de idéias, de sonhos, de sentimentos, e desabrochamos um pouco mais.
“O Visitante” me convida a partilhar da condição de todos os personagens ao mesmo tempo. E quando desligo o DVD e vou fazer qualquer outra coisa, percebo que esse novo mundo veio comigo, me sensibilizando para o conhecido e para o desconhecido, me ajudando a acordar no dia seguinte com mais sentido para ver, perceber e compartilhar. Desabrochei um pouco mais esses dias... e acho que só a música de Fátima Guedes traduz o que quero dizer. 

Flor de Ir Embora

Fátima Guedes

Composição: Fátima Guedes
Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta do que a gente chora
Rompe a terra decidida
Flor do meu desejo de correr o mundo afora
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu
E lá vou eu
Flor de ir embora, eu vou
Agora esse mundo é meu

quarta-feira, junho 02, 2010

O Tempo

O tempo é o maior tesouro de que o homem pode dispor.
Embora inconsumível, o tempo é nosso maior alimento.
Sem medida que o conheça, 
o tempo é contudo nosso bem de maior grandeza, 
não tem começo, não tem fim.
Rico não é o homem que coleciona 
e se pesa num amontoado de moedas,
nem aquele devasso 
que estende mãos e braços em terras largas.
Rico é só o homem que aprendeu piedoso e humilde
a conviver com o tempo, 
aproximando-se dele com ternura, 
não se rebelando contra o seu curso, 
brindando antes com sabedoria, 
para receber dele os seus favores e não sua ira.
O equilíbrio da vida está essencialmente nesse bem supremo,
e quem souber com acerto
a quantidade de vagar ou de espera
que se deve por nas coisas,
não corre nunca o risco, 
ao buscar por elas e defrontar-se com o que não é.
Pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas.

(Raduan Nassar por Raul Cortez | Tempo | Filme Lavoura Arcaica)

segunda-feira, maio 10, 2010

Everybody's changing and I don't feel the same

Pela tarde, enquanto lava a louça do almoço, ouvi no rádio a música Everybody's Changing/Kane. Fui em busca dessa música no 4shared e quando prestei atenção na letra...veio a calhar com meus pensamentos... Não é agradável quando isso acontece?!!!

Everybody's Changing (Keane)

You say you wander your own land
But when I think about it
I don't see how you can
You're aching, you're breaking
And I can see the pain in your eyes
Says, everybody's changing
And I don't know why
(Chorus)
So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same
You're gone from here
Soon you will disappear
Fading into beautiful light
'Cause everybody's changing
And I don't feel right
(Chorus Twice)
So little time, try to understand that I'm
Trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same

quinta-feira, maio 06, 2010

Informativo Especial ABA – 05/05/2010

Visitem o Portal da ABA
www.abant.org.br

Informativo Especial ABA nº 009/2010 – 05/05/2010

Nota da Diretoria da ABA sobre matéria publicada pela revista Veja (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010)
Frente à publicação de matéria intitulada "A farra da antropologia oportunista" (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), a diretoria da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em nome de seus associados, clama pelo exercício de jornalismo responsável, exigindo respeito à atuação profissional do quadro de antropólogos disponível no Brasil, formados pelos mais rigorosos cânones científicos e regidos por estritas diretrizes éticas, teóricas, epistemológicas e metodológicas, reconhecidas internacionalmente e avaliadas por pares da mais elevada estatura cientifica, bem como por autoridades de áreas afins.
A ABA reserva-se ao direito de exigir dos editores da revista semanal Veja que publique matéria em desagravo pelo desrespeito generalizado aos profissionais e acadêmicos da área.

Nota da Comissão de Assuntos Indígenas-CAI/ABA
http://www.abant.org.br/conteudo/005COMISSOESGTS/Documentos%20da%20CAI/NotaCAI-ABA.pdf

João Pacheco de Oliveira
Coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas/CAI


Associação Brasileira de Antropologia
Departamento de Antropologia/ICS/UnB
ICC Centro B1-349-65
Campus Universitário Darcy Ribeiro
70.910-900 Brasília, DF
Tel/Fax: (61) 3307-3754

Informação é um Direito, Esclarecimento é um Dever

     A Revista VEJA desta semana (05 de Maio de 2010) apresentou o seguinte artigo: "A Farra da Antropologia Oportunista", onde se propôs falar a respeito do trabalho de ONGs e agentes públicos na demarcação de reservas indígenas e quilombos. Defendendo que 90% (PASMEM!) do território brasileiro é constituído de áreas de preservação ecológica, reservas indígenas, quilombos e assentamentos, além das cidades, o principal argumento desta matéria é o de que estas concessões seriam um verdadeiro empecilho para a ampliação do agronegócio e, consequentemente, para uma melhor participação do país no comércio mundial. Mais neoliberal, impossível.
     Por conta deste argumento, esta matéria apresenta uma idéia distorcida a respeito das atividades e direitos dessas populações sobre as terras em que vivem. E desconsideram o modo como projetos industriais, de hidrelétricas, metalúrgicas, minas e garimpos, de produção de gás e petróleo, e madeireiras, por exemplo,  além do agronegócio, têm afetado as populações regionais, de áreas rurais cercadas por rios e florestas, de norte a sul do Brasil, onde ganha grande destaque a região amazônica.
     Como se não bastasse esse tipo de defesa dos direitos do consumidor em detrimento dos direitos humanos, VEJA se deu a liberdade de utilizar de uma linguagem fortemente desrespeitosa e irônica, tratando posseiros, ribeirinhos, índios e quilombolas como se fossem ora um "bando de espertalhões" ora um "bando de estúpidas marionetes", de forma absurdamente preconceituosa, referindo-se a respeito das práticas culturais destes como alegorias oportunistas.
     Mas, não contentes com mais esse abuso autoritário, os criativos criadores desta matéria utilizaram todo esse discurso para ridicularizar o trabalho dos antropólogos neste processo. E, ao esculachar o trabalho antropológico (os laudos antropológicos como eles dizem), não apenas suspeitando, mas acusando esse trabalho como fajuto, irresponsável e mentiroso, atropelaram as sérias instituições públicas de ensino e pesquisa, ofenderam seriamente seus profissionais (árduos pesquisadores) e ocultaram toda uma questão política mais abrangente, e muito grave, a respeito dessas populações.
      Não têm a menor idéia do que seja o trabalho do antropólogo, mas o objetivo é transferir esta opinião repugnante, desinformada e altamente autoritária a respeito de questões étnicas, de movimentos sociais, como a reforma agrária, em geral, para os empresários de plantão e toda sorte de leitores que enxergam o direito do outro como concessão e o de si como um poder.
      Para quem quiser ver a matéria na íntegra, encontrei neste blog: http://alertabrasiltextos.blogspot.com/2010/05/farra-da-antropologia-oportunista.html
     Para quem quiser saber mais a respeito do desenvolvimento industrial e das políticas públicas em territórios rurais e suas influências sobre populações regionais, ficam algumas sugestões (me enviem sugestões também):
  • CASTRO, Eduardo V., ANDRADE, L. Hidrelétricas do Xingu, o Estado contra as sociedades indígenas”, cap. 1 do livro “As hidrelétricas do Xingu e os povos indígenas” SANTOS, L. e ANDRADE, L. (orgs.).Comissão Pró - Índio de SP, São Paulo, 1988.
  • PINHEIRO, M.Fernanda. B. “Problemas sociais e institucionais na implantação de Hidrelétricas: seleção de casos recentes no Brasil e casos relevantes em outros países”, Dissertação de Mestrado, Campinas: Planejamento de Sistemas Energéticos, FEM, Unicamp, 2007. disponível em www.fem.unicamp.br/~seva
  • RICARDO, F. e ROLLA, A. Mineração em terras indígenas na Amazônia Brasileira São Paulo: Instituto Sócio Ambiental – ISA, 2005.
  • ALMEIDA, A. W. B. de “ Terras de Quilombo, Terras Indígenas, Babaçuais livres, Castanhais do Povo, Faxinais e Fundos de Pasto: Terras Tradicionalmente ocupadas” Coleção Tradição & Ordenamento Jurídico, PPGSCA –UFAM, F. Ford, Manaus, 2006.
  • ALMEIDA, A.W. B. de “ Uma campanha de desterritorialização. Direitos territoriais e étnicos: a bola da vez dos estrategistas dos agronegócios” pp 33 – 36 in Proposta Revista trimestral de debate da FASE ano 31 no. 114 outubro-dezembro 2007, RJ.
  • GAWORA, Dieter “Urucu. Impactos sociais, ecológicos e econômicos do projeto de petróleo e gás “Urucu” no Estado do Amazonas” Manaus: Editora Valer, 2003.
  • ROTHMAN, F. “A expansão dos projetos de Barragens e de Mineração na Zona da Mata MG : articulando as lutas a favor da Agricultura Familiar” apres. Seminário Nacional Desenvolvimento e Conflitos Ambientais, Belo Horizonte, 2008 .
  • VALLE , Raul S. T. do “Mineração e hidrelétricas em terras indígenas: afogando a galinha dos ovos de ouro” pp 60 – 71 in Proposta Revista trimestral de debate da FASE ano 31 no. 114 outubrodezembro 2007, RJ. 
  • Meillassoux, C. - O sucesso da política de ajuda ao sobredesenvolvimento dos países ricos - in: Arantes, A.A. & Ruben, G.R. & Debert, G.G. (org.) Desenvolvimento e direitos humanos: a responsabilidade do antropólogo, Ed.Unicamp, 1992.
  • Almeida, M.W.B. - Desenvolvimento e responsabilidade dos antropólogos - in: Arantes, A.A. & Ruben, G.R. & Debert, G.G. (org.) Desenvolvimento e direitos humanos: a responsabilidade do antropólogo, Ed.Unicamp, 1992, 188p. 
    

terça-feira, maio 04, 2010

Cuide de sua vida

Piratas do Tietê - Laerte

sexta-feira, abril 30, 2010

Espelho, Espelho Meu... Eu Também Sou Teu

Argentina - 2008 - Drama/Comédia
Tenho uma estranha e metódica propensão a lançar o enredo dos filmes ou livros antes de argumentar a respeito de como tal experiência afeta meus sentidos, que na verdade é sempre o propósito do texto. Então vamos lá. Tana e Tenso são casados há alguns anos. Tenso trabalha, Tana não e é retratada como uma mulher intensamente mal-humorada, implicante e anti-social. Tenso quer o divórcio, mas não consegue ser franco e, por isso, contrata um homem para conquistá-la, imaginando que ela possa se apaixonar e, enfim, pedir o divórcio. Tana começa a trabalhar, conhecer pessoas diferentes, encontrando momentos para dividir suas angústias e pensamentos e começa a mudar. Quando Tenso, surpreendendo-se com a mudança da esposa, pensa "enxergar a Tana por quem havia se apaixonado" (nas palavras dele), descobre o quanto a desconhecia. 
Um Namorado para Minha Esposa não tem nada de comédia.

De tantas questões que me passam pela cabeça quando rememoro este fime, duas precisam ser postadas.
Queria falar um pouquinho sobre nossa dificuldade em segurar a onda quando as coisas estão ruins e nos sentimos profundamente frustrados, e a incapacidade de lidarmos com as pessoas que amamos quando estas mostram-se insatisfeitas e vulneráveis. Nos dois casos sobra queixa e medo, falta a troca que faz com que as pessoas permaneçam juntas (o que quer que isso signifique) se amando. Os entendidos em comportamento falam em comunicação. Mas penso que isso seja realmente tão complicado que boa parte das pessoas acaba encontrando compensações na troca de coisas pela inabilidade com as idéias e sentimentos. Para mim, a troca é a que permite que vejamos o outro em sua condição sabendo que enxergá-lo dessa forma - e permitir que ele se mostre -  é o  passo mais honesto, corajoso e generoso que podemos dar.

Tana para mim é maravilhosa. O filme tem lá seus probleminhas, mas Tana me esclarece muitas coisas. Engana-se quem pensa que o seu desabrochar acontece pelo trabalho que encontra (ainda que esse ajude muito a recuperar sua auto-estima) ou pelos papos e eventuais cantadas que leva (que tem tbm o seu papel). O que Tana busca é um espaço para partilhar sua condição, o direito de reconhecer-se sem ter que se sentir anormal ou problemática em sua singularidade, o tempo de que precisa para tomar fôlego para a luta do dia-a-dia.
Me vem à mente a cena de Tana dançando na sala, num singelo momento onde tudo parece estar bem, onde a vida parece fazer sentido...bela cena...

Não salvamos ninguém e não há ninguém para nos salvar. Somos espelhos e reflexos. Só precisamos de um espelho gentil, paciente, leal e muito forte para partilharmos nossa condição simplesmente humana.

Felizmente temos Cenas de um Casamento (1974) e Saraband (2003), de Bergman, para no nosso deleite.


Edward Hopper, Morning Sun, 1951


domingo, março 21, 2010

Histórias Maravilhosas

Quarta-feira, 17 de Março, como de praxe, aluguei alguns filminhos para o fim de semana. 
Acabo de assistir "Big Fish" (Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas) de Tim Burton (2003), que conta a história de Edward Bloom, um homem muito sociável e carismático que passou a vida encantando pessoas com relatos incríveis de seus feitos heróicos. Se estas histórias alimentaram a imaginação de seu filho William durante a infância, quando adulto, o fez sentir-se enganado. Bloom está morrendo e William terá pouco tempo para tentar descobrir quem seu pai realmente é, resgatando através de pessoas, lugares e lembranças, o que ele crê ser a sua verdadeira história.
Não são propriamente as histórias maravilhosas que dão vida à trama, seja pelo fato de parecerem belamente fantasiosas ou pelo fato de parecerem obviamente inacreditáveis. Para mim, a beleza está em demonstrar o esforço de cada um em retratar sua vida com o máximo de dignidade possível, com riqueza de sentimentos, abraçando as surpresas do caminho com apego, encarando as frustrações como necessárias, celebrando  incansavelmente as alegrias, tornando-se seu próprio sonho. Sem fazer de sua relação com o tempo uma batalha pelo domínio da realidade, mas antes inclinando-se a ele em reverência e gratidão apenas por ter memória, seja lá o que isso signifique. Ao reencontrar e rememorar algumas histórias, Will não só tem a certeza de que seu pai nunca o enganou como percebe o quanto este se etenizou em sua vida e na daqueles que o amam. Somente ao reconhecer que seu pai e suas histórias são um só, é que William sente-se preparado para enfim contá-las ao seu filho que vai nascer.