sexta-feira, março 13, 2009

Partilhando Experiências: por que não há os "outros"...


Vou expor aqui uma característica do trabalho que desenvolvo na Academia. Sou mestranda em Antropologia Social e a linha de pesquisa em que estou vinculada é a Antropologia da Religião. E o assunto que quero tratar hoje é justamente o meu método de pesquisa: o trabalho etnográfico. Podemos considerar que a parte mais trabalhosa e fundamental de um trabalho de antropologia (independente da linha de pesquisa) é a parte etnográfica que consiste em compreender o modo como as pessoas constróem sentidos para o mundo em que vivem a partir das experiências sociais que partilham conforme sua condição. Eu, como antropóloga, preciso então mergulhar na vida das pessoas, não como um entrevistador comum, não como um jornalista, não como um curioso, muito menos como um detetive. Meu mergulho precisa ser atento e ao mesmo tempo delicado porque cada detalhe pode significar muito. Por isso as entrevistas não são mais importantes do que aquilo que não é dito nelas, por isso a convivência é essencial. Acontece que essa convivência, que não tem prazo limite (exceto o imposto pelo pesquisador e seus sujeitos de pesquisa), acaba cobrando algo do pesquisador. Pode parecer que as pessoas se incomodem bastante com pesquisadores. Talvez sim, talvez com alguns. Mas creio que a grande maioria das pessoas acabe se agradando com a possibilidade de verem retradas em algum lugar suas idéias, suas experiências. E é preciso ter muita responsabilidade e respeito. É preciso reconhecer que a Teoria não pode ser usada para dizer o que gostaríamos de dizer sobre os "outros". A Teoria funciona como ferramenta para alcançarmos as pessoas e suas idéias e construirmos idéias sobre como esses processos se dão e não para explicarmos como o mundo funciona. Isso porque a questão não está nos "outros". Buscar os "outros" é sempre uma forma de chegarmos a nós mesmos. É por isso que cada conversa, cada experiência dentro de um grupo estudado envolve uma partilha de significados. Longe de ficar tentando adivinhar se o que as pessoas estão dizendo corresponde a uma "verdade absoluta", é preciso ter a consciência de que tudo o que dizem tem relação com a forma como se entendem ou gostariam de se entender neste mundo. E aí está nosso ponto de encontro. O que faço eu senão buscar também os meus sentidos... Estou escrevendo hoje apenas para agradecer aos meus "sujeitos" de pesquisa. Muito obrigada por partilharem um pouco de vocês comigo. Certamente um pouco de mim também está com vocês, pois no esforço em me debruçar sobre o que desconheço é que aprendo o quanto me ensinaram a conhecer mais de mim mesma. Escrevendo as histórias de "outras" pessoas engrosso também as páginas de minha própria história.

Um comentário:

Olharinfoco Blog disse...

Isso só aponta para o seu imenso talento como antropóloga. Parabéns por tamanha sensibilidade!