quinta-feira, dezembro 30, 2010

Bem-vindo 2011!!!

Quando as situações se complicam e parece difícil consertar tudo o que está mal-feito, e estamos profundamente desanimados, é quase impossível resistir à tentação de recomeçar. Quase sempre dá vontade desmanchar o esboço desajeitado do nosso castelo e espalhar a areia toda, respirar fundo e começar tudo de novo, começar do zero. Mas, seria isso possível? Não seria assim tão fácil.
Apesar das promessas, apesar dos planos, apesar das crenças, já no início dos novos projetos percebemos os vícios das mãos na forma de moldar as bolinhas, de traçar os caminhos e formar os moldes. Separamos as forminhas, a água, circunscrevemos um espaço que queremos que seja só nosso, nos encarregamos de checar todos os ingredientes, a pá, o garfo, o monte de areia e as pedrinhas  e conchas para dar o toque final. O vento está fraco, o sol está agradável. É a hora certa de recomeçar. Sentimos uma relação profunda com a areia.
E mesmo assim percebemos nossas limitações logo no início da montagem do novo castelinho. Em pouco tempo parece que o novo plano não foi assim tão bom. O novo plano não é assim tão novo. Na metade do novo castelo já percebemos detalhes parecidos com o anterior. Procuramos os erros. Seria culpa da areia úmida demais? Da pá muito pequena? Da nossa idéia muito grandiosa do castelo? Seria mais fácil com argila? Seria mais fácil se não fosse um castelo? Seríamos realmente capazes de construir o que está na nossa cabeça, fosse com argila, tijolos ou areia? O que está errado: nossa forma de construir, o material de que dispomos ou o castelo existente em nossa cabeça?
O tempo vai passando. O material está todo na nossa frente. E a cada dia a estrutura do castelo vai desmoronando em nossa cabeça. E o desejo de construí-lo também...
O que a gente demora a se perguntar é se temos algum controle do que vai ser construído por nossas mãos, nossos pensamentos, nosso coração.
E se a forma final do tal castelinho não for mais importante do que cada passo dado, cada monte de areia, cada forminha, cada gota d'água?
Acho que nunca vamos compreender o tempo que temos. Nunca vamos saber por que o castelo que fazemos parece nunca corresponder ao que temos em mente. Nunca vamos saber por que a pá parece sempre inadequada, a água nunca é suficiente ou é demais, e por que quando o castelo parece até bonitinho vem uma onda grande e desfaz tudo...
Talvez o pulo do gato esteja em não perder tempo, o pouco tempo que temos, construindo novos planos, já que sabemos que não há outro plano, há sempre um só. É claro que podemos transformar nosso castelo conforme as adversidades, fechar uma janela, abrir outra, desmanchar uma torre ou mudar alguns cômodos. Mas é preciso amar muito, e sobretudo, cada passo dessa construção. E acreditar que o que queremos que seja construído vai ser parte do que trouxemos conosco a vida toda, parte do que ganhamos sem querer, parte do que perdemos sem saber.
E ao fim de cada dia, e não de cada ano, é preciso  ter forças para valorizar o que foi feito, recolher as pás, garfos, formas e lavá-los, secá-los e guardá-los adequadamente. E é preciso descansar, repor as energias para que no dia seguinte estejamos de pé, prontos não para outra, mas para a mesma construção. A construção do nosso mundo. E se encontrarmos formas de construir novas pás, ou encontrarmos uma concha nova serão bem-vindas no projeto que já existe, no único projeto possível..., o nosso. 
E vale à pena deixar de lado essa velha mania de ficar espiando os castelinhos alheios e criticando as ferramentas e estratégias diferentes das nossas. Cada um com seu cada um. Afinal, sabemos que nosso castelo é tão de areia quanto todos os outros...

2 comentários:

Cecilia disse...

Belíssimo texto! E certeiro.
Que assim seja!

GMS disse...

Obrigada Cecília. Um ótimo 2011 pra vc!!!